Por entre os Atendimentos Coletivos com Y. Saulo, libertamos em nós mesmos, velhos padrões. Colocar-nos à prova, em vulnerabilidade, é uma virtude. A fuga diz muito sobre quem é você. E a rendição real a tudo isso, também.
Questão: estou no início do meu Despertar e entre minhas meditações, o que tenho visto é que fui criada desde pequena da melhor forma que meus pais puderem me criar. Fui criada de forma rude e sem a presença do amor. Eu tento fazer diferente com os meus filhos, mas me vejo em um ciclo, onde sem querer me percebo fazendo as mesmas coisas que os meus pais faziam comigo, com eles. Sofro com isso, pois sei que não é a melhor forma de lidar com eles e ajo por esse impulso. Como acabar com esse ciclo?
Saulo: “obrigado pela sua pergunta. A sua questão serve não somente para com nossos filhos, mas para todas as nossas relações. Sejam elas relações amorosas, trabalhistas ou qualquer outra coisa.
Primeiro, quem acha que está Despertando, já Despertou e nem sabe, não é? [risos] Porque para estar me ouvindo agora e sentir em seu coração de fazer uma pergunta, é porque isso está fazendo algum sentido para você, não é mesmo? Se isso faz sentido, alguma coisa em você já mostrou a si mesma de certa forma, a importância de se revelar algo ainda oculto em suas relações.
Por mais que me fale que “sabe que foi a melhor forma que foi criada dentro da capacidade dos seus pais”, existe aí uma mágoa. Porque se não houvesse a mágoa, não existiria o auto julgamento, quando toma a mesma atitude que eles com seus filhos.
Logo, quando existe esse julgamento por trás das suas atitudes é porque não há uma compreensão real do que aconteceu com você. Por isso você age, reconhece, se julga e pune por isso.”
Saulo: “Uma dúvida: quando você reconhece que foi rude, você pede desculpas ou simplesmente toma aquilo como sendo um erro que vai melhorar da próxima vez?”
Questionadora: “Agora eu já consigo pedir desculpas.”
Saulo: “Esse é um caminho para consertar isso. Esse também é um caminho para consertar uma roda quebrada nesse carro. Talvez, se você não reconhecesse isso e não colocasse exposto aos seus filhos que errou e que gostaria de ser uma pessoa melhor, e até mesmo não pedir ajuda e o auxílio deles nesse processo, você estaria pautada em extrema arrogância; subjugando-os pelo fato de serem crianças.
Na realidade, o que estaria sendo criado sem desculpas, seria uma terceira cópia dessa situação abusiva.
Compreendam como relação abusiva toda relação tóxica, em qualquer nível. Seja esse nível qual for. Então se eu abuso de confiança, se eu abuso do tamanho, se eu abuso da consciência, se eu abuso de qualquer coisa eu estou ali: me colocando acima daquilo e usando o meu poder para subjugar o próximo.
Por que eu tenho prazer em subjugar o outro? Por que essa manifestação do poder sobre o outro ainda é necessária em mim? Por que isso surge?
Surge, porque eu acredito piamente que devo estar no controle de toda a situação. Então se eu tenho uma necessidade de controle muito grande, está na hora de parar um pouco e meditar sobre isso. Porque se eu tenho tendência a controlar, tudo o que fugir ao meu controle vai me deixar louco. E prestem bastante atenção:
– Nada está sob seu controle. Absolutamente nada está sob o seu controle. O que dessa forma será criado em um relacionamento seja ele qual for, é o padrão abusivo de relacionamento que você chamará de ‘amor’, quando na realidade é de uma toxidade enorme.
Necessário se faz o entendimento por meio da meditação. E estamos falando ‘do outro’ sempre, mas o outro é um espelho.
Percebam que a arrogância sempre é manifesta ‘no outro’.
Aprendo muito com duas filhas em casa e aonde está o nosso maior erro? Nosso erro está em acreditarmos que estamos acima delas [crianças], que sabemos o bastante ou que estamos aqui para ensiná-las. Sendo que na realidade, quem está aprendendo somos nós e quem está ensinando são elas.
Elas [crianças] levantam (e com muita maestria!) todas as nossas sombras. Para serem olhadas de perto, de frente e trabalhadas constantemente. Esse é um presente que se ganha. Uma oportunidade de construir um ser (que você ainda acredita ser) melhor a cada dia.
O primeiro passo já foi dado: reconhecer o padrão. Reconhecer que repete o padrão. Repetir o padrão e pedir desculpas por isso.
Aceitar a ação. A aceitação. Trazendo para si a responsabilidade da mudança. Por mais que acredite que o que passou já passou, ainda se tem voltado no tempo e sofrido com isso. É necessário deixar ir. É necessário deixar ir. É necessário deixar verdadeiramente ir para que se viva uma Vida Viva com todo amor disponível, com toda misericórdia disponível, com toda graça disponível.
Para quando vier novamente o discurso “de que aquele foi o melhor que meus pais poderiam ter feito” você sentisse isso verdadeiramente em seu coração. Somente esse sentir no coração, o ancoramento da virtude da compaixão, trará a paz e estará verdadeiramente livre do sofrimento.
É necessário amar. [pausa]
– Sem condições. [longa pausa]
Gratidão.” Saulo